Desmatamento da Amazônia apresenta queda de 33,6% no semestre

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O Cerrado é o segundo maior bioma do país em extensão, superado apenas pela Floresta Amazônica.
Moisés Muálem/WWF-Brasil
A taxa de alertas de desmatamento na Amazônia apresentou uma queda de 33,6% no semestre, conforme divulgado pelo Ministério do Meio Ambiente nesta quinta-feira (6).
Os dados sobre o desmatamento no bioma foram coletados pelo sistema Deter, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Os alertas do Inpe são feitos pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), que produz sinais diários de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que 3 hectares (0,03 km²) – tanto para áreas totalmente desmatadas como para aquelas em processo de degradação florestal (por exploração de madeira, mineração, queimadas e outras).
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No mês passado, quando apresentou os dados de desmate dos últimos meses, o Ministério do Meio Ambiente já tinha dito que os números na Amazônia são “relevantes” e “positivos”, sobretudo porque, sob a gestão de Jair Bolsonaro, o 2º semestre do ano passado teve aumento de 54% dos alertas de desmate.
Por outro lado, ao mencionar as taxas sob alerta de desmatamento no Cerrado, a pasta explicou que mais de dois terços da área de janeiro a maio ocorreram em imóveis com Cadastro Ambiental Rural (CAR). Ou seja, foram em terrenos que têm os responsáveis identificados dentro dos sistemas estaduais.
“Nossa estimativa é que mais da metade (do desmatamento no Cerrado) tenha sido autorizado pelos órgãos ambientais estaduais”, afirmou à época o secretário extraordinário de Controle do Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial, André Lima.
“Os estados estão administrando o cadastro e tem condições de embargar. Vamos ter um trabalho importante no âmbito do CAR para identificar, se é autorizado ou não. Nosso desafio agora é sincronizar os dados. O Ibama não pode multar em cima de área que os estados já fizeram autorização”, afirmou André Lima.
Tendência do Cerrado é de alta
Daniel Silva, especialista em Conservação do WWF-Brasil, alerta que os números para o Cerrado vêm se mostrando preocupantes já há algum tempo. Ele explica que, em janeiro, como a cobertura de nuvens para o bioma estava alta, a taxa de fevereiro viu o reflexo disso.
O mês registrou um número muito alto: foram perdidos 558 quilômetros quadrados de mata, quase o dobro do registrado no mesmo mês do ano passado.
“A situação no Cerrado está complicada e a gente vê claramente uma tendência de aumento”, diz Daniel.
Ele lembra que o governo federal vem concentrando esforços no combate ao desmatamento na Amazônia, algo que avalia como muito positivo e que já vem mostrando alguns resultados, mas ressalta que é também preciso concentrar os trabalhos na preservação do Cerrado, já que essa alta do desmate é uma clara ameaça a sobrevivência do bioma e da economia local.
A expansão de atividades agropecuárias é uma das atividades que mais impactam na preservação das áreas remanescentes da região.
Mas, como lembra Daniel, a preservação do Cerrado é fundamental para que justamente não haja um impacto na redução da produtividade dessas atividades, visto que o desmatamento prejudica o agronegócio, aumentando períodos de estiagem e de altas temperaturas.
“A gente vê nos três últimos anos um aumento do desmate no Cerrado. A gente não esperava por essa inversão, já que a partir do início dos anos 2000 você teve uma queda de desmatamento que é quase constante ali. O desmatamento já perdeu metade do bioma, sabe? Então é até difícil manter uma taxa de desmatamento alta”, destaca.
Aliado a isso, os valores para a região podem estar subestimados por conta da cobertura de nuvens que permaneceu bem acima da média durante os quatro últimos meses, alerta o WWF.
Na Amazônia, situação ainda é incerta
No caso do bioma amazônico, mesmo com os números de abril, Daniel explica que ainda é cedo para falarmos em tendência de queda, já que a temporada de alta geralmente ocorre na Amazônia entre junho e outubro, mas fazendeiros, garimpeiros e grileiros derrubam a floresta e se preparam para queimá-la durante todo o ano.
“Aparentemente temos sim uma mudança da situação, mas o ideal é esperarmos mais um pouco para ver”, detalha o pesquisador.
“São sinais, mas ainda não é uma tendência a meu ver porque a gente está fora do da época do desmatamento na região”.
Aliado a isso, num panorama geral, quando comparamos as taxas dos primeiros meses, vemos que os números de desmate do bioma continuam bastante altos, embora tenham caído bem em relação ao ano passado.
Segundo os últimos dados do Deter, 1.132 km² foram devastados na região somente este ano, uma área 38% menor em comparação ao mesmo período do ano, mas que chega perto dos índices dos altos índices de 2018, 2020 e 2021.
“Recebemos os números de abril como sinal positivo, mas infelizmente ainda não podemos falar em tendência de queda de desmatamento na Amazônia. Os números estão num patamar muito alto e a temporada da seca, favorável ao desmatamento, não começou”, afirma Mariana Napolitano, gerente de Conservação do WWF-Brasil.
Segundo ela, as medidas de fiscalização precisam continuar e se consolidar para garantir que as taxas de destruição continuem a cair. “Outras iniciativas como o incentivo à economia verde, a criação de áreas protegidas e as demarcações de terras indígenas, como as que ocorreram recentemente, são necessárias”, diz.
Pasto após queimada ao redor do território Karipuna, em Rondônia, em foto de 2019.
Fábio Tito/g1
Deter x Prodes
O Deter não é o dado oficial de desmatamento, mas alerta sobre onde o problema está acontecendo. O Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) é considerado o sistema mais preciso para medir as taxas anuais.
De acordo com o último relatório do Prodes, divulgado em novembro, a área desmatada na Amazônia foi de 11.568 km² entre agosto de 2021 e julho de 2022 (o equivalente ao tamanho do Catar).
O índice representa uma queda de 11% do total da área desmatada entre a última temperada (agosto de 2020 – julho de 2021). Na edição anterior, o número foi de 13.038 km², maior número desde 2006.
Apesar dessa queda pontual, o desmatamento na Amazônia cresceu 59,5% durante os quatro anos de governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), a maior alta percentual num mandato presidencial desde o início das medições por satélite, em 1988.

Fonte: G1 Tocantins